Professora denuncia intolerância religiosa em escola de Camaçari

Ofensas resultaram em agressões verbais e físicas contra professora

“Bruxa”, “demônia”, “macumbeira”, “satanás” e “feiticeira”. Estas foram algumas das ofensas que uma professora de uma escola da rede municipal de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, denuncia ter sofrido ao longo deste ano.

Em relato para o site Farol da Bahia, Sueli Santana disse que os casos de racismo e intolerância religiosa resultaram em agressões verbais e físicas após a chegada de novos estudantes na Escola Municipal Rural Boa União, localizada em Abrantes.

Os comentários ofensivos sobre a religiosidade começaram quando alunos entre 10 e 12 anos, de uma mesma família, se recusaram a assistir à aula sobre cultura afro-brasileira, após observarem as vestes tradicionais do Candomblé usadas por Sueli em uma sexta-feira.

“Eu sou professora da rede municipal, mas também sou makota do Terreiro de Lembarocy, em Salvador. Makota é um título candomblecista, e eu sempre assumi minha religiosidade. Vou de branco toda sexta-feira à escola e, quando estou em rituais, além de vestir branco, cubro minha cabeça”, explicou à reportagem.

Ela conta que a situação piorou após o recesso escolar no meio do ano. Em outubro e novembro, os ataques escalaram para agressões físicas, e a professora foi apedrejada pelos três alunos.

“Passei a sofrer não apenas agressões verbais, mas também físicas. Eu fui apedrejada por esses três alunos. Em vários momentos em que eu chegava na sala de aula, havia versículos bíblicos escritos no quadro e uma Bíblia sobre a minha mesa. Quando eu pedia para que o dono retirasse, essas meninas diziam que a Bíblia estava ali para que Jesus salvasse a minha alma”, relembra a professora, que foi agredida fisicamente no dia 30 de outubro.

De acordo com Sueli, a Secretaria de Educação foi procurada pela gestora da Escola Rural Boa União para saber como proceder diante das ocorrências, mas a única orientação repassada foi para que a educadora parasse de trabalhar com o livro que estava sendo usado nas aulas, o ABC Afro Brasileiro.

“A gestora da escola, diante de tanta pressão, procurou a Secretaria de Educação para saber o que fazer e, na primeira semana, fui proibida de trabalhar com o livro até que alguém fosse à escola conversar com os pais, como se a aplicação da lei precisasse ser autorizada”, disse Sueli.

Registro da denúncia

Inicialmente, Sueli não registrou denúncia, acreditando que poderia combater o racismo e a intolerância religiosa por meio apenas da educação. Porém, após sofrer violência física, decidiu buscar medidas legais.

“O racismo é sutil, e às vezes a gente quer tratar com educação. Eu sou professora e entendia que pelas vias educacionais isso seria possível. Mas, quando você percebe que há violência dentro daquilo, começa a compreender que está tomando outros rumos e que a resposta precisa ser diferente. Até então, eu sentia que era um preconceito comigo e fiquei na escola tentando resolver de forma educativa, trazendo a questão da religiosidade como um direito que todo mundo tem. Até culminar com o ato da violência física. A violência psicológica eu até estava suportando, mas, quando partiu para a física, senti que minha integridade estava ameaçada”, afirmou. “A pedrada que levei acertou o pescoço, mas poderia ter atingido a cabeça ou os olhos, causando sequelas”.

Na última quinta-feira (21), Sueli registrou um boletim de ocorrência na 18ª Delegacia de Camaçari (Dean) e formalizou denúncia junto ao Ministério Público da Bahia (MP-BA).

Em nota ao Farol da Bahia, a Secretaria de Educação de Camaçari informou que já tomou conhecimento da denúncia e que a professora Sueli Santana foi acolhida, bem como os estudantes e familiares para apuração dos relatos, compreensão da situação e esclarecimentos e providências cabíveis.

 

 

 

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